sábado, 3 de março de 2012

Acho que se perguntassem o que foi pior em ter tido câncer eu iria dizer que seria o depois...
As pessoas mudam tanto quanto uma célula cancerígena quando descobrem sobre esse tipo de diagnóstico.
Algumas somem, outras aparecem do nada, outras fazem promessas absurdas, te tratam da melhor forma possível,te escutam, falam, ficam com você.
"Ei, prometo nunca mais pedir isso pra você meu bem, você está sofrendo tanto",
"Quando você melhorar a gente vai p/ aquele lugar que a gente sempre quis ir",
"O que você quer fazer hoje?"
"Quer cozinhar comigo?"
E qual seria o propósito de se mudar tanto? Se depois, quando a pessoa está segura tudo volta ao que era antes? As pessoas somem, esquecem as promessas, te tratam como sempre trataram com um ar de "tudo bem, você não vai morrer mais",e a partir dai não te escutam mais.E eu não falo só de amigos, eu digo a família,..aqueles que estão, ou deveriam estar próximos de você.
Só porque eu não tenho mais câncer eu posso ser jogada de lado? Esperando pelo meu próximo momento de risco p/ que eu seja um foco de atenção denovo?

As pessoas esquecem quando não há motivo pra lembrar.

Não seria tão melhor se as pessoas cuidassem um do outro como se realmente fosse o último dia?

Eu não entendo mais esse mundo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Nossa, quanto tempo eu não entrava por aqui.
Hoje eu lembrei o quanto esse blog foi útil pra aguentar tudo oq eu estava passando, e como ele foi muitas vezes a minha única válvula de escape.Não vejo muito o pq de escrever aqui, afinal esse foi um blog sobre uma garota que tinha câncer e essa garota já não existe mais, e dizem que é bom se desfazer das coisas antigas,..renovar.
Quase dois anos de cura.
Algumas lembranças ainda doem e me fazem desabar uma vez ou outra, mas a notícia boa é que tem sido pouquíssimas vezes.Sinto que finalmente as coisas aqui na minha cabeça se organizaram, e as cicatrizes me lembram que se eu venci um monte de células descontroladas acho que o resto dos problemas são só uma questão de tempo p/ serem resolvidos não?
Finalmente me reconheço no espelho, e isso quer dizer que os restos daquela garota do hospital se foram finalmente.



domingo, 19 de setembro de 2010




As coisas por aqui passam na velocidade de um semestre.

Agora entendo porque tanta gente confunde semestre com ano...afinal, parece que faz tanto tempo que tudo começou.
A gente chega com medo, receio, inseguranças e transborda todas elas ali na sua pele, no seu estômago, no seu olhar.O que fazer? Com quem falar? O que falar? O que vão pensar de mim?Não sabia o que esperar de ninguém, imaginei todos eles como folhas em branco, e aos poucos, em cada contato, fui traçando a linha do perfil de cada um.
Mas no fim de tudo, como eu estava errada.As pessoas se parecem mais com caleidoscópios, formando imagens diferentes a cada dia.
No fim de tudo, achamos que sabemos lidar com cada uma.
Mas no fundo, não sabemos qual foi caminho deles até chegar aqui, como chegamos nesse ponto comum chamado faculdade.
e eles, menos ainda, sabem lidar com você.

...

Eu vi que não devemos julgar ninguém.
amanhã essa pessoa pode ser a única a te ajudar.
amanhã essa pessoa pode ser a única a te entender.
a única a compartilhar.
amanhã você pode estar andando com outras pessoas.
se divertindo com outras coisas.
se decepcionando por outras.
não sabemos.

.

sábado, 14 de agosto de 2010

As cicatrizes.


Um ano e um mês de cura! (Fogos)
Situação: Mesmo peso, cabelos maiores, escuros e cacheados (!),estudante de Biologia da UNESP,um ano sem se apaixonar,desenhando sempre que pode, mas nunca pra ela mesma, sedentária,insegura e chorona.
Pensei que a sensação de estar curada iria se sobrepor a todas as outras sensações ruins que o tratamento me fez passar.No começo foi assim, levei o mesmo otimismo que eu tinha nas internações junto comigo pra todos os lugares, esbanjando cura.Mas ai voltei pra realidade, tinha se passado quase um ano, eu estava careca, com medos que não tinha antes, e totalmente insegura.Onde já se viu , eu, insegura? Em 2008 eu fazia teatro, clown, dança contemporânea, cursinho,estava feliz com a minha aparência, meu peso, meus estudos.Para onde tudo isso foi?Não sei dizer, achei que iria saber um ano depois da cura, mas acho que isso vai demorar.
Passei no vestibular, entrei na UNESP, estou fazendo Biologia, quem diria também?
Gosto da universidade, dos meus novos amigos (e os velhos cadê?), e de poder ter a minha casa quando quero me esconder do mundo (o que acontece muitas vezes).Biologia é legal, mas fica logo abaixo de desenhar.
As pessoas não entendem que toda vez que eu olho no espelho, que eu vejo meu rosto, que eu penteio um cabelo que nunca foi meu e que eu uso roupas que eu não queria usar mas que são as únicas servem em mim eu desabo literalmente.O gosto da comida voltou, o fôlego também, as pontas dos dedos,o estômago, a boca.
Queria ser que oq eu era antes, pelo menos por fora, pelo menos em corpo, e não entendo pq é tão difícil.Pq é tão difícil me concentrar na vida que eu tenho agora.
E pq as pessoas tem que me mandar ser feliz?
Eu demonstro ter uma vida tão infeliz assim?
Só pq eu gosto de ficar em casa me entupindo de porcarias, na internet o dia todo, assistindo coisas engraçadas e sem fundamento, sozinha, sim, eu consigo ser feliz no meu quarto, tenho tudo que preciso nele.Fico feliz com pouco.Uma folha de sulfite branca, um lápis e criatividade.

não sei.

brava seria uma palavra melhor.

...

terça-feira, 6 de julho de 2010





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As vezes eu sinto que tudo parece escorrer pelos meus dedos.
É como se um ano inteiro fosse passar em uma semana.
E eu aqui, em pleno estado de dormência.
Já se foi um ano, e ainda não mudou nada.
Já fui mais forte.
Já chorei menos.
Já desisti menos.
E todas as coisas que me atingem parecem inflar e acabam por me sufocar aos
poucos.
Me dá vontade de desistir e chorar.
Mas não desisto por completo, e só choro.



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Ontem meus sonhos bateram na porta,eu abri, os convidei para entrar e tomar
um café ou um suco.O primeiro sonho aceitou o café,o segundo não quis nada e o
terceiro disse que só deu carona ao primeiro sonho e que não podia entrar.


Perguntei porque conviver com os meus sonhos não me fazia feliz.


O segundo sonho, que tinha negado o café, disse que a pessoa que havia
sonhado com tudo isso já não existia mais, e que eu teria que modelar novos
sonhos a partir da realidade que eu tinha agora.



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domingo, 7 de março de 2010




Minha ausência aqui foi pelo fato da minha cabeça ter entrado um pouco nos eixos (será?), pelo menos parece que está as vezes.É pelo fato de ter voltado a estudar, e desta vez sem reclamações em relação a matemática.É pelo fato do meu cabelo estar enorme e rebelde.E de me reconhecer um pouco mais quando me olho no espelho.É pelo fato de não ter me apaixonado por ninguém mais.É pelo fato de estar com medo de muitas coisas ainda.É pelo fato de me cobrar muitas vezes.É pelo fato de não ser a mesma.De não gostar das mesmas coisas e de estar literalmente uma VELHA coroca.

Hoje perguntei pra minha mãe o que ela achava de me ver o tempo todo em casa, mesmo de fins de semana.E ela disse que eu talvez tenha amadurecido e mudado em um tempo muito curto, achando certas coisas que antes me divertiam em coisas de segunda importância.Ou que eu tenha me acostumado a ficar sozinha e me adaptado a ignorar o que as outras pessoas estavam fazendo enquando eu vivia em ócio.Eu chamo isso de pura preguiça.

Voltar a estudar e me relacionar com as pessoas é muito bom.Melhor ainda é conhecê-las aos poucos e ver que todos nós somos seres humanos, e que lidamos com os problemas que aparecem no nosso caminho, ou no meu caso, lidamos com o reflexo deles.Mas estamos ali, com um mesmo objetivo, ocupando nossas cabeças, nos distraindo com as risadas dos outros,convivendo,aprendendo e respeitando esses seres humanos.Aos poucos vamos nos compartilhando,...medos, alegrias, gostos...tudo acompanhado de um bom café ou chá de gengibre.E mesmo que o dia tenha amanhecido chuvoso...já não nos lembramos do frio ou do cinza depois do primeiro abraço.





um beijo.